“Não tenham medo. Nós estaremos aqui, de mãos dadas. Estaremos juntos. Contem conosco. Coragem, a vida é feita de coragem”. Com estas palavras de Fernando Haddad encerrou o pronunciamento para pouco mais de cem militantes emocionados reunidos em um hotel na zona sul de São Paulo. Apesar do tom otimista do presidenciável derrotado, os desafios que ele e a legenda irão enfrentar durante os próximos quatro anos são imensos.

Os pouco mais de 47 milhões de votos recebidos fizeram com que a derrota não fosse o passeio bolsonarista esperado no começo do segundo turno. Haddad, que não era a escolha preferida do PT e enfrenta resistência dentro do próprio partido, consolidou-se como herdeiro acidental de Luiz Inácio Lula da Silva para disputar um espólio na sigla e na esquerda como um todo.

A partir do ano que vem o PT voltará à oposição, e se verá às voltas com os problemas que fizeram com que sua tentativa de organizar uma “frente democrática” contra o novo presidente.

Confira o discurso na íntegra:

“Estela, Manuela, Luca, que está aqui presente com a gente hoje, muito prazer em ter você conosco. Meus filhos, minha mãe, Carolina, Frederico, dona Norma. Minhas irmãs, Lúcia, Priscila. Todos os companheiros aqui de outros partidos presentes. Queria saudar em especial o Guilherme Boulos, que foi candidato a presidente da República. Companheiros do Pros, do PCdoB, do Psol, do PSB, presidenta Dilma, que está aqui também, muito obrigado. Sempre senador Suplicy. Nossos deputados, nossos senadores.

Eu, em primeiro lugar, eu gostaria, pela minha formação, de agradecer meus antepassados. Eu aprendi com meus antepassados o valor da coragem para defender a justiça a qualquer preço. Aprendi com a minha mãe, com o meu pai, aprendi com a memória dos meus avós, que a coragem é uma valor muito grande quando se vive em sociedade. Porque todos os demais valores dependem dela.

Queria agradecer aos partidos todos que estiveram conosco, a sua militancia aguerrida. Primeiro, que nos levou ao 2º turno. Depois, nos levou a ter mais de 45 milhões de votos no dia de hoje. Uma parte expressiva do povo brasileiro precisa ser respeitada neste momento. Diverge da maioria, tem um outro projeto de Brasil na cabeça, e merece respeito no dia de hoje.

Sei que, entre os 45 milhões de eleitores que nos acompanharam até aqui, muita gente não é de partido político, muita gente não é de associação. Sobretudo na última semana, o que nós vimos foi a festa da democracia nas ruas do Brasil. Gente que saiu à rua com o colega, com a esposa, com o marido, com os filhos, e passou a panfletar o país inteiro, ou colocar um banco numa praça, colocar um cartaz no pescoço e passou a dialogar e reverter o quadro que se anunciava na primeira semana do 2º turno. E houve uma reversão muito importante em função da conscientização de uma boa parte de brasileiros do que estava em jogo. E era muita coisa que estava em jogo.

Nós vivemos um período já longo em que as instituições são colodas à prova a todo instante. A começar de 2016, quando tivemos o afastamento da presidenta Dilma. Depois, com a prisão injusta do presidente Lula, a cassação do registro de sua candidatura, desrespeitando uma determinação das Nações Unidas. Mas nós seguimos. Seguimos de cabeça erguida, seguimos com determinação, seguimos com coragem para levar nossa mensagem aos rincões do país. Ao campo e à cidade, às periferias e ao centro, aos estudantes, aos idosos, aos GLBTs, aos homens e mulheres, brancos e negros, católicos e evangélicos, àqueles que pertencem à religiões de matriz afro, aos ateus, a todos os brasileiros. Nós, de forma determinada, fomos a todos os rincões levar a mensagem que vale a pena levar. De que a soberania nacional e a democracia, como nós a entendemos, é um valor que está acima de todos nós.

Nós temos uma nação e nós precisamos defendê-la daqueles que de forma desrespeitosa pretendem usurpar o nosso patrimônio, o patrimônio do povo brasileiro, e entendemos a democracia não apenas no seu ponto de vista formal, embora isso seja muito importante lembrar no Brasil de hoje, são os direitos civis, são os direitos políticos, são os direitos trabalhistas, são os direitos sociais, que estão em jogo neste momento.

Portanto, nós temos uma tarefa enorme no país, que é, em nome da democracia, defender o pensamento, defender as liberdades desses 45 milhões de brasileiros que nos acompanharam até aqui. Nós temos a responsabilidade de fazer uma oposição colocando os interesses nacionais, o interesse de todo o povo brasileiro, acima de tudo. Porque nós aqui temos um compromisso com a prosperidade desse país, nós que ajudamos a construir a democracia, uma das maiores do mundo, no Brasil, temos que ter um compromisso em mantê-la e não aceitar provocações, e não aceitar ameaças.

Vocês verão que a nação, lembrando o nosso hino nacional, verás que um professor não foge à luta, nem teme quem adora à liberdade a própria morte. Nosso compromisso é um compromisso de vida com este país. Nós temos uma longa trajetória de militância, de vida pública, nós reconhecemos a cidadania em cada brasileiro, em cada brasileira, e nós não vamos deixar esse país para trás. Nós vamos colocá-lo acima de tudo e nós vamos defender os nosso pontos de vista respeitando a democracia, respeitando as instituições, mas sem deixar de colocar o nosso ponto de vista sobre tudo que está em jogo no Brasil a partir de agora. E tem muita coisa em jogo, e nós precisamos compreender o que está em jogo.

Nós temos que fazer uma profissão de fé e que nós vamos continuar a nossa caminhada, conversando com as pessoas, nos reconectando com as bases, nos reconectando com os pobres deste país para retecer um programa de nação que há de sensibilizar mentes e corações deste país. Daqui a quatro anos nós teremos uma nova eleição, nós temos que garantir as instituições. Nós não vamos sair das nossas profissões, dos nossos ofícios, mas não vamos deixar de exercer a nossa cidadania. Nós vamos estar o tempo inteiro exercendo essa cidadania, e talvez o Brasil nunca tenha precisado mais do exercício da cidadania do que agora.

Eu coloco a minha vida à disposição desse país, tenho certeza que falo por milhões de pessoas que colocam o país acima da própria vida, acima do próprio bem-estar. E quero dizer para aqueles que eu, olhando nas ruas deste país, em todas as regiões, eu senti uma angústia e um medo na expressão de muitas pessoas, que às vezes chegavam a soluçar de tanto chorar. Não tenham medo. Nós estaremos aqui. Nós estamos juntos. Nós estaremos de mãos dadas com vocês. Nós abraçaremos a causa de vocês. Contem conosco. Coragem, a vida é feita de coragem. Viva o Brasil! Viva o Brasil!”.

Comentário desabilitado.