Dos nove milhões de brasileiros que declararam ter deficiência auditiva ao IBGE, no Censo de 2010, aproximadamente 344,2 mil são completamente surdos. Dentro desse contingente populacional encontra-se a barreirense Aline Kailane da Silva da Cruz. Ela venceu a batalha pela formação em nível superior, em um trabalho pioneiro da Faculdade São Francisco de Barreiras (FASB) em parceria com a colaboração da família, os professores Claudemir Teixeira  e Sandra Samara Farias e o corpo docente do curso de Educação Física da instituição. O Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) da, então, aluna foi apresentado na última terça-feira (18), em uma das salas de aula em que ela estudou.

Durante a apresentação Aline falou, por meio da linguagem de sinais, sobre as dificuldades encontradas no ensino médio, com a rejeição das escolas, e em outra tentativa no ensino superior, em uma instituição pública, quando não dispunha de intérprete para acompanhá-la durante as atividades. “Na primeira prova, na universidade pública, fui colocada na mesma condição dos demais alunos, sem intérprete, e isso influenciou no baixo desempenho que tive na avaliação. O episódio me deixou triste e me fez questionar se eu era capaz de produzir. Apesar da decepção, decidi que buscaria outras alternativas para alcançar o meu sonho de concluir a graduação, foi aí que encontrei a FASB”.

Quase duas décadas após a aprovação da Lei 10.436/2002, quando foi oficializada a Língua Brasileira de Sinais e instituída a presença de um tradutor ou intérprete de línguas em diversos espaços, inclusive no educacional, ainda há grande dificuldade de acesso dos surdos às instituições de ensino por falta desses profissionais. “Tivemos uma trajetória muito especial com a Aline, principalmente por conta do legado que ela deixa para a instituição em relação ao processo de aprendizagem e da discussão que fizemos em torno da inclusão. Tínhamos o conhecimento teórico, mas foi um grande desafio colocar isso em prática. A FASB sempre esteve de portas abertas para aprender junto com a sociedade, por isso que nesse momento temos muito a comemorar”, disse Milton Cézar da Silva, coordenador do curso de Educação Física.

O pai de Aline, Adesvaldo Alves da Cruz, emocionado, fez uma retrospectiva do histórico escolar da filha e destacou a saga vivida por ela na busca pela formação. “Antes de chegar à FASB tivemos de ir à justiça várias vezes para garantir o direito dela. Mas aqui nós fomos acolhidos, a instituição aderiu à nossa causa, e foi isso que permitiu que chegássemos até o dia de hoje. Tivemos também a ajuda de pessoas que se identificaram com a luta de Aline, principalmente professores das instituições por onde ela passou”, disse.

Claudemir Teixeira, que foi professor de Aline no ensino médio, fez questão de assistir à apresentação. Ele, na ocasião em que lecionou para ela, teve de abrir mão de um emprego para acompanha-la como intérprete. “Sempre incentivei Aline a estudar, buscar e galgar novos espaços. É um sucesso para ela, que empreendeu para chegar até aqui, e um sucesso para a FASB, que apostou na ideia e não negou o direito que ela tem. Depois de tantas tentativas não exitosas por falta de intérprete hoje ela consegue realizar o sonho de se formar. É um exemplo para Barreiras e região”. Pontuou.

Após passar pela avaliação da banca, formada pelos professores Rogério Porto, Nara Modica e a orientadora Sandra Lousada, Aline, ao lado do esposo Fábio Cruz, falou sobre o legado do período acadêmico. “Estou muito feliz e emocionada. Quando lembro de tudo o que passei, percebo o quanto eu recebi de apoio da família e de amigos, para chegar a essa vitória. Todos se empenharam em me compreender e ensinar. Fico feliz em ver o orgulho no corpo docente da FASB pela conclusão dessa jornada. Foi difícil, todos nós aprendemos muito e conseguimos criar uma esperança para as pessoas com deficiência. Independente da capacidade, nós temos condições de alcançar o objetivo, basta ter fé, dedicação e buscar apoio em pessoas e instituições que estejam dispostas a ajudar. Eu tenho muita gratidão por tudo o que aconteceu aqui na faculdade”, afirmou.

 Araticum Comunicação 

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