A informalidade do mercado de trabalho está limitando o avanço da produtividade brasileira. O indicador é considerado fundamental para a melhora da atividade econômica e da renda da população, mas está estagnado nos últimos anos, o que contribui ainda mais para o quadro atual de marasmo da economia.

A produtividade é um item que mede quanto uma economia pode criar de valor com base em vários fatores, como emprego e estoque de capital – uso de máquinas e equipamentos. E é um indicador importante porque, quanto mais cresce, mais rápido um país enriquece.

Com a recessão e a lenta retomada econômica dos últimos anos, milhões de brasileiros tiveram de recorrer a bicos e a trabalhos por conta própria para conseguir alguma renda. E o impacto dessa piora do mercado de trabalho na produtividade é fácil de ser entendido. Um engenheiro que foi demitido durante a crise e teve de se tornar um motorista passou a exercer uma atividade que agrega menos valor para a economia.

“A economia brasileira vem crescendo pouco nos últimos dois anos. Não é um ciclo de expansão que faz as empresas voltarem a gerar empregos formais”, afirma Luka Barbosa, economista do banco Itaú. “E essa geração de empregos informais vai adicionar menos atividade econômica (para o país).”

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia de Estatística (IBGE) deixam essa deterioração do mercado de trabalho evidente. No trimestre encerrado em junho, o Brasil tinha 11,5 milhões de trabalhadores ocupados no setor privado sem carteira de trabalho e 24,1 milhões de profissionais na categoria de conta própria. No mesmo período do ano passado, eram 10,9 milhões e 22,9 milhões, respectivamente.

Não há um indicador oficial que apure o nível de produtividade do país, mas o exercício realizado pelo Itaú mostrou que o quadro poderia ser ainda pior. A questão levantada pelo banco é que, embora a informalidade não ajude o quadro como um todo, ela evitou uma queda maior do indicador.

“Quando não se faz a separação entre empregos formais e informais, fica-se com a percepção de que a produtividade caiu muito”, afirma Barbosa. “A produtividade está ruim porque foram gerados empregos menos produtivos. No momento em que o Brasil tiver uma expansão mais forte, provavelmente o país vai voltar a gerar empregos formais e a gente vai ver a produtividade subir novamente.”

Formado em contabilidade, Thiago Henrique Belmonte, de 34 anos, foi um dos milhões de brasileiros que deixaram um trabalho formal e partiram para uma atividade informal. Em 2015, no auge da crise econômica, ele foi demitido de uma rede de lojas de perfumes importados. “Passei a trabalhar na feira com o meu pai logo que perdi o emprego”, diz. “Fiquei quase um ano na feira até que uma amiga falou sobre a possibilidade de virar motorista de aplicativo.”

Como motorista, além de trabalhar para aplicativos, Thiago passou a fazer viagens particulares. Com o tempo, o negócio foi crescendo, até que ele decidiu apostar em viagens executivas e criar a própria empresa. “Fiz alguns cartões de visitas e entregava para os clientes, aí comecei a ter corridas particulares.”

Hoje, ao menos para Thiago, o pior da crise econômica parece ter ficado para trás. Ele teve de se tornar um microempresário por causa do crescimento do seu negócio e já tem contratos acertados com algumas empresas para fazer o serviço de motorista. “Já estou fora do mercado de trabalho há quatro anos e o meu negócio passou a tomar corpo”, diz.

*G1

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