Esquerda e direita: um jogo de segunda divisão, por Jolivaldo Freitas

A direita brasileira está jogando livre, sem marcação. Sem respeitar as leis do impedimento e ainda fazendo gol de mão. A esquerda brasileira está na retranca. A direita parece estar em jogo de torcida única. A esquerda parece que vendo de longe, pela TV. O técnico da direita mandando entrar de sola, dividir e “jogar pra pirão”. A esquerda olhando o técnico preocupado em não ser vaiado pela massa. Perdão pela longa dissertação analógica, mas estamos vivendo um Brasil em que a esquerda (que poderia ser ativa, além de ferrenho contraponto ao governo, anda patinando), totalmente perdida e sem conjunto. Pode-se dizer que a culpa recai sobre Lula. Ele está mais preocupado em recuperar sua biografia, do que dar um destino melhor e mais honroso para o Partido dos Trabalhadores, e ajudar a dar um Norte para a outra metade da população, que tem Bolsonaro como o leviatã.

Não podemos esquecer que a volta da democracia ao país, anulando a ditadura militar, é devido à atuação dos grupos de esquerda. Ela era a vanguarda organizada do pensamento político e da atitude civil. Era sinônimo de oposição e a perspectiva de algo novo depois de dezenas de anos do governo de caserna. A esquerda chegou ao poder com Lula, mas se perdeu no caminho.

O articulista Vladimir Safatle, do El País, publicou uma peça cujo título é “Como a esquerda brasileira morreu”. Lembrando que ele tem uma carreira pautada com a democracia e causas sociais. Ele está desanimado, por notar que a esquerda vem mostrando cada vez sua incapacidade. Não sabe ou não quer reagir. Ele observa preocupação com o que considera uma escalada fascista. Tanto que a palavra mais forte do seu artigo é “terminal”, buscando nominar o estado indigente dos setores ditos progressistas. O articulista mostra espanto diante da passividade da oposição nos momentos de aprovação da Reforma da Previdência, por exemplo, o que demonstra, em sua opinião, que a esquerda perdeu a capacidade de estabelecer outros modelos políticos e também econômicos.

Veja um trecho do artigo: “A esquerda governa estados, municípios grandes e pequenos, mas de nenhum deles saiu um conjunto de políticas que fosse capaz de indicar a viabilidade de rupturas estruturais com o modelo neoliberal que nos é imposto agora. Houve época que a esquerda, mesmo governando apenas municípios, conseguia obrigar o país a discutir pautas sobre políticas sociais inovadoras, partilha de poder e modificação de processos produtivos. Não há sequer sobra disto agora”.

Vladimir Safatle observa que o povo brasileiro devia se preocupar, pois essas atitudes estão facilitando a que o governo atual jogue sem marcação, o que é ruim para a democracia. Ele tem razão quando diz que a esquerda está fraca, perdida e fragmentada. Hoje o PT, que seria o grande muro contra as investidas dos novos hunos; um alambrado contra a direita, está envergonhada pelo cometido e voltada, não mais para uma campanha de longa duração de “Lula Livre”, mas denodando esforços para um “Lula Inocente”. E, enquanto isso não se vislumbra uma composição esquerdista para bater de frente com os atos e anseios direitistas. A esquerda está em coma. Se não respirar não viverá. E não é culpa do Coronavírus. Sim, do seu próprio vírus.

*Jolivaldo Freitas
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Escritor e jornalista. Autor de “A Peleja dos Zuavos contra Dom Pedro e o Satanás” e de “Histórias da Bahia – Jeito Baiano”. E-mail: Jolivaldo.freitas@yahoo.com.br

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