Nau de Papel (Martiniano e Annerose)

A música é um universo que trabalha e contribui essencialmente com a sensibilização e a imaginação, constituindo novas possibilidades para acentuar valores humanísticos. Permitir ao público um maior contato com artistas locais, seus feitos e atuações. É preciso despertar na criança, no adolescente e adulto o desejo de mudança, estimulando-os a serem defensores do contexto em que estão inseridos e em particular reconhecer e respeitar os trabalhos que envolvam as linguagens artísticas e a cultura local como forma de afirmação da identidade.

A intenção aqui é apresentar uma proposta/reflexão a respeito da escassez e falta de produção musical de qualidade, atualmente, na cidade de Barreiras. Desde o início da sua emancipação, no começo do século passado, Barreiras já despontava como um celeiro de artistas notáveis a exemplo dos irmãos Antonino e Alfredo Sampaio, na música e no teatro, seguidos pela professora Iazinha Pamplona, Alcyvando Luz, Rivelino Carvalho e tantos outros saudosos artistas barreirenses que não muito tempo atrás, produziam trabalhos musicais de qualidade harmônica e poética.

Os festivais, onde a canção barreirense era apresentada anualmente, estão inativos há mais de duas décadas, certamente deixaram lacunas e contribuíram, negativamente, para o desinteresse de novos valores. Assim como na cultura, acredita-se que nenhuma música deve sobrepor a outra mas, tradição, qualidade, costumes perdidos devem ser questionados ou discutidos sob um olhar histórico e crítico. Nossos saudosos ouvidos só escutam, propositalmente, no mercado fonográfico “hits americanizados” disfarçados e defendidos por cowboys tupiniquins, ditos universitários que esguelam exaustivamente nos meios de comunicação de massa. Como cantou Tom Jobim – “O rio da minha aldeia pode não ser tão famoso como o Tejo, mas é o rio da minha aldeia”. Eu, particularmente, prefiro cantar nossos Rios de Ondas e Grande que assim como a música regional, se forem “esquecidos” pelos poetas de ofício ou não, correm o risco de secarem em nossas almas e mentes tornando-nos mais uma vez, mortos-vivos da cultura Barreirense. “Poetas feito cegos, saiba, moço, podem ver nas profundezas tanta beleza acesa por detrás da escuridão” nos lembra o poeta barreirense Clérbet Luiz.

Longe de ser bairrista ou xenofóbico, a proposta é reafirmar, mostrar, produzir e reconquistar espaço no cenário local, fazendo a música barreirense ser como sempre foi, uma marca de identidade cultural dos que nasceram ou escolheram esse lugar para viver.  Sem medo, alienação ou vergonha de ser feliz, eu, particularmente, continuarei sendo aquele menino buchudo encantado nos versos do meu mano Luiz Hespanha – “Água clara, sol a pino, beira de rio e eu menino”… e você?

Martiniano Carvalho.

 

Comentário desabilitado.