O Amor já não é mais o mesmo. Muito embora o cinema, e ainda as músicas, invoquem este sentimento, o modernismo, a cobiça e o jogo de interesses, reduziu o amor em um mero devaneio de tolos românticos e poéticos. Se há amor, sobrevive no coração de cada pessoa, silencioso, solitário, a espera da reciprocidade que a outra parte finge devotar. Seria um pensamento amargurado. Acho que não. Veja-se o exemplo que assistimos nesta semana. Um ex-presidente vê sua esposa, sua companheira de mais de 40 anos falecer depois de sequelas de um AVC, mas, ao invés de postar-se de joelhos aos prantos ao lado do caixão, expondo sua face humana à sociedade, ele prefere lembrar-se de outro amor, o mais inebriante, o poder. Sim, naquele momento, em que a mãe de seus filhos e companheira de toda uma vida, vai-se para sempre, ao invés do pranto, do coração dilacerado, lá estava o político hábil e inescrupuloso, trocando afagos com aqueles que seus adoradores chamam de golpistas, pedindo uma reaproximação, e ao final, fazendo do velório um comício de pré lançamento de sua campanha eleitoral, onde claro, irá explorar mais esta morte. Já foram tantas. Isso é amor? Talvez a esposa, devota ao marido, até tenha de onde estiver, concordado com o marido, afinal, foi sua companheira de todas as horas, mesmo na cumplicidade dos desatinos do poder, mesmo quando o marido desfilava com a ex-secretária Rosemeri e invariavelmente os fuxicos lhe chegavam aos ouvidos. E a cumplicidade, faz parte do amor? Talvez sim, do amor passivo, daquele tipo de amor que se submete, que aceita as artimanhas e jogos do parceiro, em prol de uma relação duradoura. Em mais de 20 anos de advocacia conheci varias mulheres e homens, que se submeteram a picaretagem dos parceiros, sendo cúmplices de seus deslizes éticos e morais, em nome do suposto amor. Isso é amor? Realmente não entendo esse amor, onde um homem envolve sua parceira em falcatruas milionárias, e mais, envolve os filhos, num escândalo rentável para a família, mas questionável moral e eticamente. Isso é amor? Ver a companheira sofrendo pelo falatório de uma nação, ver a companheira denunciada em inquéritos policiais, sujeita a prisão. E não foi só este caso. Sergio Cabral, não somente envolveu sua atual mulher, como a ex-mulher, que recebia dinheiro de propina sem ter conhecimento, achando que brotava em árvores. E Cunha, também pode ter encrencado sua esposa e sua filha. Isso é amor? Realmente, o amor já não é o mesmo. Shakespeare nos dias de hoje, teria de ter outro final para o seu célebre Romeo e Julieta. Não morreriam de amor. Romeo provavelmente fugiria com o tesouro do príncipe de Verona, e, colocaria Julieta como culpada, deixando-a pena capital. Realmente, o amor já não é o mesmo, ou quem sabe, só tenha existido nas peças literárias e filmes, porque o amor real, nem tão belo, nem tão fantasioso, está de uma realidade que entristece, uma realidade cinza, onde amar é mero interesse.

 

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