Imagine a seguinte cena: em uma loja de conveniências quatro mesas dispostas no interior da loja. Em três destas mesas, uma pessoa completamente diferente, em cada mesa, e cada uma com o rosto voltado para o seu celular. Mal levantam os olhos quando são atendidos. Estão ensimesmados em seus universos particulares, pouco se dando conta do universo e mundo a sua volta.

Ensimesmado – adjetivo – que se ensimesmou. Voltado para dentro de si mesmo; concentrado, recolhido. Isso é o que diz o dicionário e ele está coberto de razão.

Contam alguns velhos conhecidos que nos idos dos anos 80 no Rio de Janeiro, no começo do processo de informatização dos bancos, havia um senhor, famoso, que se recusava a participar deste novo mundo. Ele tanto se recusava que o banco com o qual trabalhava deixou um caixa especialmente para ele nos moldes que ele gostava, de forma analógica. Seu nome, Heráclito Fontoura Sobral Pinto. Pelo menos é o que contam.

Trouxe o causo acima para traçar um parâmetro com que estamos vivendo agora, onde a “rebeldia” de Dr. Sobral reflete a realidade do isolacionismo no qual estamos imersos hoje. Parece que ele adivinhava algo.

Passamos o dia com os focinhos colados no celular acompanhando segundo a segundo as postagens feitas nas redes sociais. Seja para interagir, para se divertir, para fofocar, para se atualizar e estamos esquecendo de algo muito importante: o homem não é uma ilha cercada de celulares por todos os lados. O homem é um ser social e sociável que precisa do contato com outros seres humanos e não através de uma telinha de celular ou uma tela de computador ou ainda uma telona de televisão.

Precisamos de gente, precisamos do contato humano, precisamos olhar olho no olho de cada um de nós para podermos nos sentirmos vivos de verdade.

Em uma cena, pessoas reunidas em uma mesa, em um restaurante, TODAS, voltadas para seus celulares e para seus universos, sem conversarem entre si.

Em outra pior ainda, em uma mesa, em um restaurante, uma família e, a maioria, voltada para seus aparelhos mágicos, sem interagirem entre si.

Estamos vivendo ensimesmados, fechados, lacrados, trancados em nossos universos particulares, universo dos grupos, das redes sociais, dos calabouços de nossa própria alma.

Mais um pouco e iremos viver tão isolados que nem bom dia saberemos dar quando encontrarmos com outras pessoas nas ruas, isso se sairmos as ruas.

O encontro do fim de tarde, a velha happy hour, com os amigos, com os parentes, com os colegas, vai se tornar uma atividade altamente obsoleta. As reuniões se darão nos grupos de ZAP, nas mesas do Instagram, nos botecos do Face.

O ser humano não é um objeto e pior, um objeto obsoleto. Ele tem que viver, tem que interagir com outros seres humanos. Ele tem que mostrar que está vivo e que os outros também estão. Ele tem que sair deste casulo e voltar a viver.

Por Mário Machado

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