500 mil, Covid, festas e enxugando gelo – por Jolivaldo Freitas

Foto//Reprodução/Rio da Paz

Passamos dos 500 mil mortos, número emblemático que o país acompanhava sua sequência de perecidos até chegar a ele, como quem acompanhava uma regata fúnebre. No mesmo dia em que o país batia a triste marca os pátios dos pedágios nas estradas já mostravam movimento atípico, com muita gente saindo de carro em direção ao interior, de olho nos festejos do São João, muito embora os municípios tivessem suspendido os festejos. A saída abrupta – também pela rodoviária e pela Baía de Todos os Santos, se dando por que o Governo do Estado determinara restrições de transporte para o período.

O ano passado quando o Estado suspendeu as festas de São João e alertou a população para o fato que se meter a festejar geraria mais mortes – o que realmente ocorreu – o que se viu foram pessoas buscando os chamados transportes coletivos ou os ônibus “coração de mãe”, ao longo da BR-324, BA-099 e outras. Os veículos saindo na calada da madrugada e seguindo para os municípios diversos, que fizeram barreiras, mas que foram anuladas por que os transportes paravam distantes da sede municipal. O mês de julho e agosto mostraram os resultados na pele e no sofrimento das famílias.

Agora é a mesma coisa. Estamos no limiar da Festa de São João e as autoridades chamam a atenção para a chegada da Terceira Onda e também para a presença de variantes complicadas como a indiana, dentre outras. Antes, o que vem sendo verificado é a absoluta falta de interesse ou sensibilidade da população – principalmente os jovens – com a iminência do sofrimento ou mesmo da morte aos borbotões. Num fim de semana deste junho a PM acabou com mais de 30 festas que começaram no sábado e terminaram na madrugada de segunda-feira. Numa delas tinha mais duas mil pessoas. Poucas usando máscaras.

Para se ter uma ideia a “Operação Força-Tarefa” de Salvador interditou numa só leva uma semana atrás, 20 bares, dois depósitos de bebidas, um hotel e uma lanchonete. Além disso, 16 aglomerações foram dispersadas, sendo uma delas em uma chácara e as outras 15 em ruas da cidade.  Com relação aos “paredões” foram quatro apreensões de equipamentos sonoros. Desde o dia 5 de abril, quando foi iniciada a retomada do comércio, a Sedur fez mais de 100 mil vistorias, com 365 interdições, 218 aglomerações dispersadas e 11 equipamentos apreendidos.

O número de leito nos aparatos montados pelo Governo do Estado e Prefeitura Municipal ficando oscilando em junho entre 80 e 85 por cento em termos de ocupação. E agora lá vem o São João de novo e também o São Pedro. As autoridades alertando. Os médicos, enfermeiros e técnicos se esfalfando num incessante trabalho de enxugar o gelo enquanto parcela expressiva da população mostra parecer que estamos numa geleira antártica. E olha que boa parte dos “festeiros” já teve algum parente, amigo ou conhecido que se foi, pois, a Covid adora festas, aglomeração e é contra o uso de máscara. Fico a imaginar o sentimento de um intensivista, depois de ano e meio de estresse sem cessar, ao ver imagens de uma festa apinhada de gente. Ele sabe que vai continuar a enxugar sua parcela de gelo.

*Jolivaldo Freitas

Escritor, jornalista e especialista em marketing político

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