Um conto pelo Natal: Parte II- Por Mário Machado Júnior

Adormeceu e viajou, foi para épocas distantes, para lugares que há milhares de anos ele não via, não reconhecia, mas estavam ali presentes, sorrateiros em seus sonhos. Por fim reconheceu onde estava. Estava na casa paterna, estava em sua infância, estava em um passado há muito esquecido. Estava feliz!!!

Levantou-se, sua mente estava em seus 45 anos, seu corpo, refletido no espelho era o de um adolescente de 13 anos, mente e corpo conflitava, mas o cheiro era impressionante, o bolo de chocolate que sua mãe fazia, sua infância, seu passado, suas memorias afetivas.

Começou a caminhar pela casa, e cada fiapo de memoria iluminava o seu rosto, enternecia o seu coração, tamanha era a sua saudade, tamanha era as suas lembranças e o mais cruel dos sentimentos, a saudade.

Chegou a sala e, no canto, a pequena árvore de natal artificial, montada com aquelas bolinhas, com a corda de luzes, porém sem um único pacotinho sob a mesma. Arrepiou-se, aquele tinha sido o ultimo natal em família que sua memória lhe permitia recordar. 13 anos era sua lembrança que mais doce poderia lhe envolver o coração.

Caminhou pela casa simples chegando até a fonte de sua saudade olfativa, a cozinha, onde sua mãe cozinhava auxiliada por sua irmã Tereza e sua tia Márcia. Faziam as guloseimas que seriam servidas na ceia. Nada dos luxos que impunham o comércio e os natais luxuosos dos anúncios de televisão.

Um frango simples, recheado com a farofa que aprendera a fazer com a sua avó materna. Sua irmã fazia o arroz enquanto sua tia decorava o bolo de chocolate.

Parou na porta e ficou vislumbrando aquela imagem tão doce e tão distante. 32 anos o separavam daquele momento. Faltava alguma coisa, a imagem não estava completa. O que faltava?

Recostou-se no umbral da porta e olhava, olhava e não sabia o que faltava, tinha algo errado naquela cena. O que faltava? E seu pai, onde estava? A ausência dele naquela cena era significativa.

Virou-se para a porta da casa, olho na sala, foi ao quarto e nem sinal de seu pai.

Seu pai, um velho carpinteiro, que trabalhava sem medida para dar o que de melhor podia a sua família. Onde estava seu pai? Ele não fazia parte do cenário? Ele não estava na casa? Estaria ainda na serraria?

Sentiu um arrepio no coração. Teria voltado aquele dia?

Continua…

 

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