O espetáculo “Jacinto Morto”, escrito e dirigido por Leonardo Crusoé, estreou nesta segunda feira (3 de julho) na cidade de Salvador, no Teatro Goethe e o espaço ficou pequeno. Com 130 poltronas, a sala precisou ser adaptada para receber as mais de 300 pessoas que compareceram e mesmo com cadeiras extras e pessoas sentadas no chão, algumas não conseguiram entrar.

A produção acompanha dois homens presos em uma cela não sabem onde e nem há quanto tempo. Com a certeza que apesar de estarem sendo observados eles só têm a si mesmos. A dinâmica cênica se dá na observação da relação desses homens e na progressão do seu desespero com o cárcere e os motivos dele. O diretor Leonardo Crusoé ficou orgulhoso com o sucesso da estreia: “Nós [artistas] sabemos a dificuldade e a felicidade que é lotar uma sala de teatro. Só posso dizer o quanto estou feliz em representar o Teatro Baiano que está vivo graças ao público que segue assíduo e aos artistas que seguem resistindo”

O espetáculo é estrelado por Cicero Locijá e Rapha Gouveia, a direção é assinada por Leonardo Crusoé com assistência da juazeirense Terena França. A produção é de Roama. Jacinto Morto é o produto de uma disciplina do curso de Artes Cênicas Direção Teatral da Universidade Federal da Bahia.

Quem perdeu a oportunidade e quem quer assistir de novo terá nova chance. O espetáculo retorna aos palcos 19h dos dias 26 e 27 de Julho no Teatro Gregório de Mattos.

Sinopse: Quais são as nossas prisões? Quem nos colocou nelas? Completando 100 dias em uma cela, dois homens tentam entender o que os levou até ali. O barulho das celas ao lado chama atenção como sombras na parede de uma caverna. Talvez seja uma pista para as respostas ou talvez eles estejam olhando para o lado errado de um mundo que tenta, mas não consegue se esconder.

Crítica: (Joaquim Leão, Cientista social, jornalista, crítico de arte) O Teatro baiano não é um produto, é um processo infinito realizado por muitas mãos. Na última segunda feira (3 de julho) este processo ganhou mais um capítulo.

O espetáculo “Jacinto Morto”, é um trabalho de faculdade e rompe as barreiras invisíveis de uma universidade ocupada demais com gabinetes e as vezes distante de sua realidade e se coloca para a sociedade baiana como uma alternativa às produções preocupadas em mostrar profundidade numa tigela de sopa e que acabam fazendo um culto de si para si, pregando para convertidos em uma espécie de masturbação coletiva.

“Jacinto Morto” discute temas fundamentais como a violência sofrida pela comunidade LGBTQIAPN+, Autoritarismo e relações familiares abusivas sem se deixar virar panfletária e entendendo que no mundo real há inclusive a possibilidade de perceber o ridículo em tudo isso.

Como encarar de perto e de frente um inimigo mortal. Se ficarem se olhando por tempo o suficiente os dois vão acabar rindo. Os atores, Cicero Locijá e Rapha Gouveia que fazem Rafael e Cícero respectivamente, estão em completa harmonia como um casal junto há anos que se entende, se conhece, se tolera e se ama. A cenografia é econômica, claustrofóbica e certeira. A iluminação também econômica garante a atmosfera necessária para mergulhar na história que compreende a complexidade dos temas abordados sem se transformar em uma enfadonha tread do Twitter sobre o cancelamento da semana. Ao sair do espetáculo a sensação é de ter experimentado algo fresco e bem feito, mesmo usando uma matéria prima com mais de mil anos. Imperdível. Vá, tire uma foto SEM FLASH e poste o costumeiro “Vá ao teatro”. E se não quiser cair no clichê escreva “Vá ao teatro. De lá dá pra ouvir o som do liquidificador”.

*ASCOM

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